quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Síndrome do intestino irritável – Ênfase ao tratamento

Introdução

A síndrome do intestino irritável (SII) é uma condição clínica muito comum em todo o mundo. Estudos de prevalência realizados nos Estados Unidos estimam que entre 10% a 15% da população apresenta sintomas da síndrome, com predomínio nas mulheres. Embora somente 30% dos pacientes procurem assistência médica, a SII é responsável por aproximadamente 12% das consultas de assistência primária e 28% das consultas aos gastroenterologistas.


Trata-se de um distúrbio funcional do trato digestivo para o qual não se demonstrou, até o momento, qualquer alteração metabólica, bioquímica ou estrutural da(s) víscera(s) envolvida(s), manifestando-se pela acentuação, inibição ou simplesmente modificação da função intestinal.

Os sintomas típicos da SII são desconforto ou dor abdominal, geralmente localizados na região baixa do abdômen, associados à alteração do hábito intestinal – constipação, diarréia ou alternância de uma e de outra. Outros sintomas freqüentes são muco nas fezes, urgência retal, distensão abdominal e flatulência. A síndrome é de evolução crônica com amplo espectro de gravidade que

varia de manifestações clínicas leves a muito exuberantes. Os múltiplos sintomas associados à SII exercem considerável impacto sobre a qualidade de vida do paciente, limitando a sua vida social, as oportunidades educacionais e a produtividade no trabalho.

Investigadores propuseram um novo sistema de classificação para estes distúrbios funcionais intitulado Roma II. Esta classificação se baseia na premissa de que todas as desordens funcionais do aparelho digestivo apresentam alterações motoras e/ou sensitivas similares e para cada uma delas existem sintomas característicos e facilmente identificáveis. O comitê Roma II classificou essas

alterações funcionais de acordo com as regiões anatômicas, distinguindo-as em seis grupos, a saber:

esofagianas, gastroduodenais, intestinais, biliares, anorretais e dor abdominal funcional. A SII, como também a constipação e a diarréia funcional, é considerada um distúrbio funcional do intestino.


Fisiopatologia

A etiologia e fisiopatologia da SII não são ainda totalmente compreendidas, mas acredita-se, pelos

conhecimentos adquiridos nos últimos anos, que sejam multifatoriais. A diversidade das manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes torna pouco provável que um único mecanismo seja o responsável pela síndrome e provavelmente, que estão implicados transtornos da função intestinal, juntamente com a percepção anormal de fenômenos normais. Alterações na motilidade gastrintestinal e na percepção visceral, bem como fatores psicossociais, contribuem para a expressão dos sintomas em geral.

As alterações da regulação das conexões do sistema nervoso central (SNC) com o intestino têm sido muito estudadas e, provavelmente, centros neurais superiores modulam as atividades motora e sensorial gastrintestinal e vice-versa.

O modelo proposto admite a integração das atividades motoras, sensoriais, autonômicas do trato digestivo, interagindo continuamente com o SNC. Compreende-se, assim, que informações exteriores ou cognitivas,mantendo conexões com centros que interferem na função gastrintestinal, tenham capacidade de influenciar a secreção, a motilidade e as sensações digestivas. Alguns estudos recentes sugerem que o SNC processa anormalmente a informação na SII. Se essas observações

forem confirmadas, a associação entre as alterações de personalidade e os transtornos funcionais provavelmente terão como base uma disfunção central.

Relatos recentes sugerem também que a ativação imunológica e a inflamação da mucosa podem estar associadas às alterações neuropáticas relatadas na fisiopatologia da síndrome e justificam o conceito da SII pós-infecciosa.


Diagnostico

Vários estudos recentes demonstram que não há necessidade de uma extensa bateria de exames para o diagnóstico da síndrome em um paciente com sintomas típicos e que não apresentam sinais de alarme (emagrecimento, anemia, enterorragia, febre recorrente, mudança do calibre das fezes, massa palpável, história familiar de câncer de cólon). É essencial realizar história clínica e exame físico minuciosos, pois a anamnese bem conduzida servirá como um guia ao clínico para inclusão ou exclusão do diagnóstico da SII e a seleção dos pacientes que deverão ser investigados como também para a melhor terapêutica a ser prescrita.

Os critérios estabelecidos pelo Consenso Roma II são os mais utilizados para o diagnóstico. De acordo com esses critérios, a SII se caracteriza pela presença de dor e/ou desconforto abdominal, contínuos ou recorrentes com, no mínimo, 12 semanas de evolução, não necessariamente consecutivas, nos últimos 12 meses e que apresentam pelo menos duas das três seguintes características:

• Alívio com as evacuações.

• Início associado às mudanças na freqüência das evacuações.

• Mudança na consistência (forma) das fezes.

Alguns outros sintomas, quando presentes, reforçam o seu diagnóstico como urgência evacuatória, sensação de evacuação incompleta, presença de muco nas fezes e distensão abdominal. A propedêutica complementar deve ser realizada de maneira individualizada e, em alguns casos, está indicado um teste terapêutico antes de se iniciar a investigação diagnóstica. O conhecimento dos critérios de Roma II associado a uma atitude positiva de considerar o diagnóstico da síndrome precocemente pode levar o médico a conduzir o atendimento dos pacientes de uma maneira mais custo eficiente do ponto de vista de procedimentos diagnósticos. Vários fatores devem ser considerados como a idade do paciente, a presença dos sinais de alarme, a facilidade de acesso à investigação, os riscos e benefícios do tratamento farmacológico e as conseqüências econômicas desta decisão.

Deve-se também avaliar a presença de co-fatores psicológicos, ambientais e dietéticos e o uso de medicamentos que possam interferir com a freqüência evacuatória.


Tratamento

O tratamento da SII, especialmente de suas formas graves, representa um dos grandes desafios para o gastroenterologista, sendo que, até o momento, não existe uma terapêutica que seja verdadeiramente eficaz. Os novos conhecimentos fisiopatológicos de relevância sobre a SII propiciaram o direcionamento nas pesquisas de novos fármacos capazes de atuar sobre a motilidade do TGI (exercendo um efeito procinético ou antiespasmódico) e/ou sobre a hipersensibilidade visceral (reduzindo o limiar de sensibilidade). Os agentes serotoninérgicos agem potencialmente nos múltiplos sintomas sensoriais e de dismotilidade (base da fisiopatologia mais moderna da síndrome) resultando teoricamente em melhora global dos sintomas. É nítida, no entanto, a lacuna ainda existente entre a pesquisa básica e a prática médica constatada pela escassez de novos fármacos liberados para comercialização. Certamente, a otimização do manuseio terapêutico dessa síndrome virá, em futuro que acreditamos próximo, com o real conhecimento de toda a sua fisiopatologia e, conseqüentemente, com a disponibilização de inúmeros fármacos específicos capazes de melhorar globalmente ou, até mesmo, curar o paciente.

A estratégia terapêutica atual vai depender da natureza e intensidade dos sintomas, do grau de comprometimento funcional e de fatores psicossociais envolvidos. Existe um consenso, cada vez mais aceito, de que as medidas de atenção primária são aquelas que refletem o melhor controle dos sintomas (dor, diarréia, constipação), como pode se observar nas escalas de melhora clínica global. Deste modo, a maneira mais adequada de tratar o paciente é por meio de uma abordagem ampla e integral, mas individualizada, tentando identificar os fatores desencadeantes ou agravantes da sintomatologia, inerentes a cada paciente. A freqüência das evacuações, a consistência das fezes e a satisfação dos pacientes são os melhores indicadores da eficácia clínica.

Uma boa relação médico/paciente é fundamental. É necessário que os pacientes sejam esclarecidos de que seus sintomas são decorrentes de distúrbios funcionais e não caracterizam nenhuma doença grave ou risco de vida, assegurando-lhes que o problema será tratado de forma interessada e racional. A tendência do médico é, com freqüência, subestimar queixas de caráter funcional provavelmente por um desconhecimento da atual fisiopatologia da síndrome e da importância dos eventos psicossociais a ela associados.

Embora nenhuma alteração rigorosa da dieta esteja indicada, devemos respeitar as intolerâncias específicas de cada paciente. É necessário fazer uma cuidadosa revisão dos hábitos alimentares, orientando uma alimentação mais adequada. Essencialmente, a dieta deve ser pobre em gorduras e em "alimentos sabidamente produtores de gás", sobretudo se há queixa de distensão abdominal e flatulência. Recomendamos a ingestão de fibras e líquidos na dieta (especialmente para os pacientes com constipação predominante). O equilíbrio das fibras, que devem ser ingeridas sem excessos, é muito importante. Intolerâncias específicas como ao glúten e à lactose devem ser reconhecidas. Uma vez estabelecida a relação entre determinados alimentos e os sintomas, justifica-se a dieta de exclusão.

A maioria dos pacientes com sintomas leves necessita apenas de serem tranqüilizados em relação à sua doença e orientados quanto às modificações dietéticas (aumento ou redução de fibras, lactose e frutose) e do estilo de vida. Entretanto, alguns pacientes com sintomas leves e aqueles com sintomas graves necessitarão de tratamento farmacológico, intervenção psicológica ou ambos.

O tratamento medicamentoso disponível visa aliviar o sintoma predominante (Figura 1). Embora as diretrizes sobre o delineamento dos ensaios terapêuticos nos distúrbios funcionais gastrointestinais alertem contra uma subclassificação dos pacientes de acordo com os sintomas principais (em decorrência da instabilidade sintomática), ela efetivamente faz sentido especialmente na SII (com predominância de constipação ou de diarréia). Compostos com indicação específica para cada subgrupo de pacientes estão surgindo na atualidade. O problema reside muitas vezes no fato de que vários pacientes têm, alternadamente, diarréia e constipação, dando origem aos chamados subtipos alternantes ou mistos, cujo tratamento é ainda mais complexo.




Deve-se ressaltar que a resposta ao placebo é, em geral, muito alta. Estudos controlados e duplo-cegos demonstram que o placebo é capaz de promover melhorados sintomas em mais de 50% dos pacientes, indicando que a terapêutica com medicamentos nem sempre é necessária.

As opções terapêuticas para os pacientes com SII e predominância de diarréia incluem antidiarréicos e, possivelmente, a colestiramina. Por outro lado, para aqueles com predomínio de constipação podemos utilizar agentes laxativos (formadores de bolo fecal ou osmóticos) e o tegaserode. Para alívio da dor estão indicadas as drogas antiespasmódicas e relaxantes da musculatura lisa. Além disso, os antidepressivos e ansiolíticos constituem opções terapêuticas valiosas para um subgrupo de pacientes, especialmente se há relato de agravamento dos sintomas com estresse e quando são observadas co-morbidades psiquiátricas. Nos últimos anos, o desenvolvimento de drogas que têm como alvo os receptores da serotonina traz grande expectativa para o tratamento da SII.

Todas essas opções de tratamento serão discutidas a seguir.

A loperamida, um derivado – opiácio com capacidade de diminuir a velocidade do trânsito intestinal, pode ser útil (1 a 2 mg até três vezes ao dia) nos casos de SII com diarréia predominante, pois, além de contribuir para o aumento da consistência das fezes e redução da freqüência evacuatória, ameniza a dor abdominal. Esse medicamento, por não atravessar a barreira hemato-

encefálica, apresenta menos efeitos adversos que outros agentes similares, como o defenoxilato. A prescrição de antidiarréicos deve ser sempre feita com cautela, uma vez que o paciente pode se tornar constipado,especialmente os portadores da forma alternante de SII.

A colestiramina também deve ser considerada e o benefício na sua utilização parece relacionado à sua capacidade de seqüestrar bile, especialmente em pacientes com má absorção de ácidos

biliares. Outras drogas relaxantes da musculatura lisa do intestino, como o brometo de pinavério, constituem uma outra opção para o tratamento dos pacientes com diarréia predominante, tendo a vantagem de aliviar a dor abdominal.

Nos casos de constipação intestinal os laxativos podem ser prescritos, mas sempre de maneira bastante criteriosa e, se possível, por curtos períodos. Utilizamos preferencialmente os laxantes que aumentam o bolo fecal (fibras insolúveis e solúveis), os agentes osmóticos (macrogol/PEG

ou lactulose) e os emolientes/lubrificantes (docusato, óleo mineral). Os laxantes estimulantes/irritantes (antraquinônicos, difenilmetano) apresentam rápido início de ação, porém devem ser evitados pelos seus conhecidos efeitos colaterais, como cólica abdominal e risco de lesão do plexo mioentérico colônico. A utilização de outros medicamentos capazes de estimular o trânsito colônico tem sido tentada com eficácia clínica variável como os procinéticos, a colchicina e a trimebutina. As drogas mais indicadas para o alívio da dor abdominal são os antiespasmódicos, como os antimus carínicos, trimebutina, brometo de pinavério, brometo de octilônio e mebeverina.

Os bloqueadores do canal de cálcio não seletivos, como o diltiazen e a nifedipina, agem sobre o cólon, mas os seus efeitos sistêmicos restringem o uso na SII. O brometo de pinavério atua inibindo

a entrada de cálcio na musculatura lisa, porém apresenta efeito seletivo sobre o trato gastrintestinal e, conseqüentemente, poucos efeitos sistêmicos. Dados recentes indicam que essa droga também tem ação sobre a transmissão nociceptiva. A dose usualmente empregada é de 100 mg, duas vezes ao dia, e vários estudos demonstram a sua superioridade sobre o placebo na melhora da dor abdominal e da diarréia. O brometo de octilônio, outro bloqueador dos canais de cálcio, pode ser também utilizado para alívio da dor, e alguns estudos recentes sugerem que essa droga é mais eficaz que o placebo na melhora global dos pacientes. A mebeverina é um derivado da papaverina que tem ação relaxante na fibra muscular lisa, sem efeitos anticolinérgicos e, teoricamente, capaz de normalizar a motilidade intestinal.

Resultados bastante satisfatórios têm sido observados quando utilizado na dose de 200 mg, duas vezes ao dia.

A experiência com o brometo cimetrópio, droga com ação antimuscarínica, é muito limitada.


Drogas com Ação no Sistema Nervoso Central

Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina, desipramina, doxepina) ou os inibidores da captação da serotonina (fluoxetina, sertralina, paroxetina), que apresentam como mecanismo de ação uma provável analgesia central e bloqueio da transmissão da dor do trato digestivo para o cérebro, podem ser utilizados no tratamento da SII. Essas drogas têm propriedades neuromoduladoras e analgésicas, independentes da ação psicotrópica, e esses efeitos ocorrem mais precocemente e com doses mais baixas do que aquelas usualmente empregadas para o tratamento da depressão (p. ex., 10 a 50 mg de amitriptilina e 10 a 20 mg de fluoxetina, uma a duas vezes ao dia).

Estão indicados, de maneira especial, para pacientes com sintomas mais graves ou refratários e quando se observanítida associação com depressão ou crises de pânico. Para que seja avaliado o real benefício do antidepressivo devemos prescrevê-lo por, no mínimo, três a quatro semanas e, caso seja considerado eficaz, mantido por 3 a 12 meses. Os tricíclicos devem se evitados nos pacientes

com constipação predominante pelo risco de agravamento do quadro.

Um trabalho de metanálise demonstrou que os antidepressivos são superiores ao placebo no tratamento da SII, embora a qualidade metodológica dos estudos avaliados seja, em geral, muito discutível. Foi observado também que pacientes com SII e predominância de diarréia são os que mais se beneficiam com a prescrição dessas drogas.

Os ensaios clínicos com antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina demonstraram resultados conflitantes e, algumas vezes, decepcionantes em termos de alívio dos sintomas digestivos. A fluoxetina não foi capaz de alterar a sensibilidade retal e não foi

superior ao placebo no alívio global dos sintomas quando comparada ao placebo. Um estudo recente demonstrou que a paroxetina foi superior ao placebo (63% versus 26%; p=0,01) na melhora da função intestinal, não sendo superior no alívio da dor e da flatulência.

Para melhorar a aderência a esse tipo de tratamento, deve-se informar ao paciente que a medicação

antidepressiva atua como analgésico central, sendo capaz de controlar a dor abdominal ao reduzir a função aferente visceral e/ou facilitar as vias inibidoras descendentes no controle da dor, podendo ser de valia também para os sintomas depressivos induzidos pela doença.

Os ansiolíticos também podem ser prescritos para al guns pacientes com SII pela freqüência dos sintomas de ansiedade e relato de agravamento do quadro intestinal desencadeado por fatores emocionais. Alguns estudos corroboram a eficácia dos benzodiazepínicos na SII, mas a diferença entre droga e placebo é relativamente pequena. Em virtude do potencial de dependência e de interação com outros medicamentos, essas drogas devem ser sempre utilizadas com bastante prudência.


Outras Drogas

Leuprolide, um análogo não peptídio da gonadotrofina, tem sido usado no tratamento da SII, porém sua eficácia é bastante controvertida. Clonidina, um agonista alfa-adrenérgico, parece ter alguma eficácia na SII com pre-dominância de diarréia.


Antagonistas e agonistas dos receptores da serotonina (5HT)

A justificativa para a investigação sobre os agonistas e antagonistas dos receptores da serotonina (5-hidroxitriptamina/ 5HT) baseia-se no fato de que a serotonina, que pode ser liberada por células do tipo enterocromafins no trato gastrintestinal, assim como a partir de outras origens neuronais ou não-neuronais, apresenta diversos efeitos motores intestinais bem documentados e pode produzir hiperalgesia em vários modelos experimentais.

Os receptores da serotonina pertencentes aos subtipos 5HT3 e 5HT4 são os mais estudados em gastroenterologia, embora vários outros subtipos, tais como os agonistas e antagonistas 5HT1, 5HT7 e 5HTIBID estejam surgindo atualmente (Tabela 1).


Os receptores 5HT apresentam propriedades moduladoras seletivas, sendo capazes de regular a peristalse e reduzir a sensibilidade visceral. Além disso, também afetam os processos secretórios ao nível da mucosa (especialmente os subtipos 5HT3 e 5HT4). Alguns dados experimentais sugerem que variações genéticas podem ser responsáveis por alterações da proteína transportadora de serotonina (SERT), o que causaria modificações funcionais do cólon em um subgrupo de pacientes com SII. O reconhecimento da importância do 5HT na transmissão de estímulos sensoriais dolorosos para o SNC e de como ele pode participar da motilidade digestiva e das secreções intestinais estimularam a indústria farmacêutica a pesquisar intensivamente drogas que atuam através deste mecanismo.


Antagonistas dos receptores 5HT3

Os efeitos dos antagonistas dos receptores 5HT3 incluem a redução da velocidade do trânsito e do reflexogastrocólico, além de um aumento da complacência do cólon.

O antagonista 5HT3, alosetron, não disponível no Brasil, é eficaz no controle da diarréia e da urgência evacuatória em pacientes com SII. Cinco estudos clínicos randomizados e controlados avaliaram a eficácia dessa droga e demonstraram uma melhora estatisticamente significativa no objetivo principal (alívio da dor abdominal, desconforto ou urgência fecal e satisfação do paciente)

para os pacientes que usaram alosetron em comparação com o grupo placebo. Estima-se em sete o número de pacientes que precisaram ser tratados para beneficiar um paciente na SII.

A constipação intestinal é um efeito colateral comum com o uso dessa droga, que por esta razão é absolutamente contra-indicada em pacientes com SII e constipação. Alguns outros efeitos colaterais sérios também foram associados ao uso do alosetron, como obstrução intestinal e colite isquêmica. Por causa dessas reações adversas potencialmente sérias, o alosetron foi retirado do mercado norte-americano em 2000, meses após sua aprovação inicial pela FDA. No entanto, foi novamente aprovado em junho de 2002, em parte por pressão dos próprios pacientes, e atualmente vem sendo utilizado com prescrição extremamente controlada, para casos refratários de SII e diarréia, somente nos Estados Unidos. A dose inicial recomendada é de 1 mg/dia, que é metade da dose usualmente empregada nos ensaios clínicos. Se o paciente não exibir nenhuma melhora e a medicação for tolerada, a dose do alosetron poderá ser aumentada para 1 mg, duas vezes ao dia, após quatro semanas.

Outras drogas da mesma classe encontram-se em fase final de investigação, como o cilansetron, que deverá ser lançado ainda este ano no mercado farmacêutico com indicação para pacientes com diarréia e dor abdominal.


Agonistas dos receptores 5HT4

Os receptores 5HT4 são mediadores de diversas respostas sobre o trato gastrintestinal. Têm efeito procinético ao aumentar a liberação de neurotransmissores, ação indireta na sensibilidade visceral ao serem capazes de relaxar células musculares lisas, além de atuarem na absorção/secreção promovendo aumento do líquido intraluminal, com conseqüente eliminação de fezes mais amolecidas ou mesmo diarréia.

O tegaserode é um componente aminoguanidina-indolagindo como um agonista seletivo e parcial de receptores 5HT4 e tem demonstrado boa eficácia e tolerabilidade no tratamento da SII. Estruturalmente é diferente dos substitutos de benzamidas tais como cisaprida ou metoclopramida e não tem relevante propriedade bloqueadora de receptor 5HT3 e dopamina D2. A ativação dos receptores 5HT4 (efeito agonista) dispara o reflexo peristáltico e a atividade motora de todo o trato gastrintestinal. Os efeitos procinéticos de tegaserode foram estabelecidos em modelos pré-clínicos que avaliaram o esvaziamento gástrico normal ou alterado e a motilidade intestinal diminuída.

Diversos trabalhos suportam o papel dos receptores 5HT4 na modulação da sensibilidade visceral, sugerindo um efeito benéfico de tegaserode na alteração da percepção visceral.Quatro estudos multicêntricos, controlados com placebo e randomizados de grande porte, avaliaram a efi-

cácia do tegaserode no alívio dos sintomas dos pacientes com SII. Nesses estudos, a melhora terapêutica em favor do tegaserode (comparado ao placebo) variou de 5% a 18%. A diarréia foi o evento adverso mais freqüentemente mencionado, sendo relatada em 9% a 10% dos pacientes tratados que receberam tegaserode em comparação com 4% a 5% dos pacientes tratados com placebo. Os pacientes relataram melhora global dos sintomas e aumento do número de evacuações.

Não ficou totalmente definido se o tegaserode é capaz de melhorar significativamente a dor abdominal, a flatulência e a consistência das fezes.

Em um estudo recentemente publicado foi observado que o tegaserode na dose de 2 mg, duas vezes ao dia, acelerou significativamente o trânsito do intestino grosso e apresentou perfil de tolerância e segurança favoráve quando comparado ao placebo. Os efeitos colaterais mais freqüentes foram diarréia, que ocorreu principalmente no início da terapia, cefaléia e dor abdominal.

O tegaserode foi liberado pelo FDA em 2002 para tratamento da SII com predomínio de constipação em mulheres e, recentemente, também para o tratamento da constipação funcional; a dose recomendada é 6 mg, duas vezes ao dia, antes das refeições. Esta droga não deve ser prescrita para pacientes que apresentam a síndrome com predominância de diarréia.


Terapias Futuras

Novas opções terapêuticas para a SII vêm sendo testadas atualmente. Medicamentos analgésicos viscerais, como, por exemplo, aqueles capazes de estimular os receptores Kappa opióides (asimadolina), estão sendo avaliados em vários centros de investigação. Também estão em desenvolvimento drogas capazes de prevenir a sensibilização central, como os antagonistas do receptor 1 PGA-2 (EP-1). A corticotrofina também vem sendo testada com alguns resultados promissores. A avaliaçãode drogas imunossupressoras para se tentar prevenir e tratar a SII pós-infecciosa também tem sido discutida. Os estudos empregando probióticos, sabidamente úteis no tratamento da diarréia infecciosa, têm despertado grande interesse, uma vez que, teoricamente, eles

poderiam modular a flora intestinal anormal na SII. Foi demonstrado que a administração de lactobacilos aliviou não apenas a diarréia, mas também a dor e a distensão abdominal, provavelmente pelo seu efeito bacteriostático e imunomodulador. Dois estudos realizados durante qua tro semanas observaram que o L. plantarum foi super or ao placebo especialmente no alívio da dor e da flatulência, mas não foi observada melhora global dos sintomas.

Poucos estudos promissores empregando plantas naturais (ervas) chinesas foram publicados, contudo os resultados ainda não foram reproduzidos em grandes ensaios terapêuticos. Recente revisão sugere efeito benéfco da acupuntura para os pacientes com distúrbios funcionais.


Terapias Alternativas e Abordagem Psíquica

O tratamento psicológico deve ser considerado para pacientes com sintomas mais graves que não respondem ao tratamento farmacológico e para aqueles com doenças psiquiátricas associadas, como depressão ou transtorno da ansiedade. As intervenções psicológicas mais estudadas no tratamento da SII são o controle do relaxamento e do estresse, a terapia cognitivo-comportamental, hipnoterapia e a psicoterapia psicodinâmica ou interpessoal. A maioria dos estudos corrobora o tratamento psicológico na redução do estresse, ansiedade e depressão e, em muitos casos, alívio da dor e do desconforto abdominal associado à SII. Uma interessante revisão de 16 estudos clínicos randomizados e controlados envolvendo a terapia psicológica na SII concluiu que o tratamento psicológico é mais eficaz que o placebo no alívio dos sintomas individuais. É necessário, no entanto, cautela na interpretação desses resultados, uma vez que a maioria deles apresenta grandes limitações do ponto de vista metodológico.

Os tratamentos psicológicos não foram comparados entre si e, portanto, a escolha do método a ser indicado depende de disponibilidade, custo e preferência do médico e do paciente.

A qualidade da assistência e o entusiasmo do profissional da saúde mental vão desempenhar, seguramente, papel fundamental no alívio da sintomatologia e no desfecho clínico dos pacientes portadores da SII.


Artigo escrito por:

Maria do Carmo Friche Passos
Professora Adjunta-Doutora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e da Faculdade de Ciências Médicas/MG

11 comentários:

  1. Muito obrigado Doutora Maria do Carmo!

    ResponderExcluir
  2. Excelente trabalho, Profa./Dra. Maria do Carmo!
    Obrigado por gentilmente disponibilizá-lo através da Internet.
    M.D. Antonio Augusto D. Webber - CRM/SC 5.112

    ResponderExcluir
  3. Excelente estudo sobre problemas silenciosos decorrentes do desconforto abdominal e psicoativo.

    ResponderExcluir
  4. É muito bom pra portadores de SII que não têm acesso aos periódicos científicos poder acompanhar informações embasadas sobre a síndrome. Parabéns pelo trabalho!

    ResponderExcluir
  5. Olá amigos quero comentar aqui o meu caso e a simples solução que encontrei.
    Eu durante 10 anos tive muitos problemas de intestino fiz 3 vezes Colonoscopia, passei por 5 médicos todos com
    diagnósticos diferentes, mandaram eu trocar a alimentação não comer chocolates, especiarias, gorduras, frutas,
    feijão, repolho, brócolis, leite, bebidas gaseficadas, álcool e principalmente alimentos com gluten.
    Segui a risca todas as recomendações e nada adiantou.

    Meus Sintomas eram esses:
    - Estresse - acho que todos que tem problemas com intestino é estressado ou meio depressivo, no meu caso era assim.
    - Dor Abdominal Forte ou Cólicas
    - Gases
    - Diarréia ou Constipação - dependendo do que eu comia esse quadro se alternava, alguns dias dava diarréia outros prendia o intestino
    - Muco nas Fezes

    Era meio estranho pois tinha tempos que dava uma melhorada e tinha tempos que parece que esses sintomas se agravavam.

    Até que há 2 anos atrás eu comecei a pesquisar sobre probióticos e prebióticos e cheguei a conclusão que o melhor custo benefício como probiótico
    seria o Kefir de Leite e o melhor prebiótico seria a fécula de batata crua pois ela é um amido resistente puro e encontra em qualquer mercado.

    O amido resistente que no caso é a fécula de batata crua passa direto pelo aparelho digestivo sem ser digerido e vai parar no intestino intacto e esse amido resistente serve como alimentação para as bactérias boas do nosso intestino,
    essas bactérias boas você consome através do Kefir de Leite que é uma colônia de bactérias boas para a restauração e renovação da nossa flora intestinal.

    Comecei a consumir todos os dias 2 copos de Kefir de Leite misturado com 1 colher de sopa de fécula de batata crua, parece uma coisa muito simples não ?

    Por incrivel que pareça em 1 semana meu intestino já regularizou, em 2 semanas não tinha mais nenhum sintoma, continuei tomando e tomo até hoje todos os dias
    depois de 4 meses que eu estava tomando fui fazer uma nova colonoscopia e o médico se surpreendeu comparando com os antigos resultados, eu contei para ele o que estava tomando e ele
    confirmou que realmente tem muitas pessoas tendo ótimos resultados e benefícios com o Kefir de Leite mas como ele não têm autorização para receitar produtos naturais e só pode
    receitar remédios de laboratórios e de farmácias ele não receita de forma alguma, mas disse que era para eu continuar tomando que isso tinha me curado.

    Descrevi aqui exatamente o que o médico me falou.

    Então pessoal estou deixando aqui esse relato para quem interessar que pesquise sobre o Kefir de Leite, na internet e youtube tem muitas informações, vocês vão se surpreender.

    O único problema desse Kefir de Leite é que é difícil de encontrar, mas eu encontrei um site que vende pelo valor de R$24,90 já com o frete incluso e entregam em todo o Brasil.

    o site é esse:

    kefirdeleite.com


    O Kefir de Leite quando você compra vem os grãozinhos e com esses grãos você mesmo vai fazendo em casa pois ele vai reproduzindo e vai tomando todos os dias, você compra apenas uma vez e se bem cuidado dura anos e anos.

    Então não custa dar uma pesquisada pois o meu estado eu considerava grave e me incomodava demais, estou deixando esse post em agradecimento a esse abençoado Kefir de Leite que mudou a minha saúde.

    ResponderExcluir
  6. Olá amigos quero comentar aqui o meu caso e a simples solução que encontrei.
    Eu durante 10 anos tive muitos problemas de intestino fiz 3 vezes Colonoscopia, passei por 5 médicos todos com
    diagnósticos diferentes, mandaram eu trocar a alimentação não comer chocolates, especiarias, gorduras, frutas,
    feijão, repolho, brócolis, leite, bebidas gaseficadas, álcool e principalmente alimentos com gluten.
    Segui a risca todas as recomendações e nada adiantou.

    Meus Sintomas eram esses:
    - Estresse - acho que todos que tem problemas com intestino é estressado ou meio depressivo, no meu caso era assim.
    - Dor Abdominal Forte ou Cólicas
    - Gases
    - Diarréia ou Constipação - dependendo do que eu comia esse quadro se alternava, alguns dias dava diarréia outros prendia o intestino
    - Muco nas Fezes

    Era meio estranho pois tinha tempos que dava uma melhorada e tinha tempos que parece que esses sintomas se agravavam.

    Até que há 2 anos atrás eu comecei a pesquisar sobre probióticos e prebióticos e cheguei a conclusão que o melhor custo benefício como probiótico
    seria o Kefir de Leite e o melhor prebiótico seria a fécula de batata crua pois ela é um amido resistente puro e encontra em qualquer mercado.

    O amido resistente que no caso é a fécula de batata crua passa direto pelo aparelho digestivo sem ser digerido e vai parar no intestino intacto e esse amido resistente serve como alimentação para as bactérias boas do nosso intestino,
    essas bactérias boas você consome através do Kefir de Leite que é uma colônia de bactérias boas para a restauração e renovação da nossa flora intestinal.

    Comecei a consumir todos os dias 2 copos de Kefir de Leite misturado com 1 colher de sopa de fécula de batata crua, parece uma coisa muito simples não ?

    Por incrivel que pareça em 1 semana meu intestino já regularizou, em 2 semanas não tinha mais nenhum sintoma, continuei tomando e tomo até hoje todos os dias
    depois de 4 meses que eu estava tomando fui fazer uma nova colonoscopia e o médico se surpreendeu comparando com os antigos resultados, eu contei para ele o que estava tomando e ele
    confirmou que realmente tem muitas pessoas tendo ótimos resultados e benefícios com o Kefir de Leite mas como ele não têm autorização para receitar produtos naturais e só pode
    receitar remédios de laboratórios e de farmácias ele não receita de forma alguma, mas disse que era para eu continuar tomando que isso tinha me curado.

    Descrevi aqui exatamente o que o médico me falou.

    Então pessoal estou deixando aqui esse relato para quem interessar que pesquise sobre o Kefir de Leite, na internet e youtube tem muitas informações, vocês vão se surpreender.

    O único problema desse Kefir de Leite é que é difícil de encontrar, mas eu encontrei um site que vende pelo valor de R$24,90 já com o frete incluso e entregam em todo o Brasil.

    o site é esse:

    kefirdeleite.com


    O Kefir de Leite quando você compra vem os grãozinhos e com esses grãos você mesmo vai fazendo em casa pois ele vai reproduzindo e vai tomando todos os dias, você compra apenas uma vez e se bem cuidado dura anos e anos.

    Então não custa dar uma pesquisada pois o meu estado eu considerava grave e me incomodava demais, estou deixando esse post em agradecimento a esse abençoado Kefir de Leite que mudou a minha saúde.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jessica,
      Sabe informar se o kefir de água teria o mesmo efeito benéfico que o de leite?
      Estava procurando na internet e só consegui o de água.
      Tenho SII com tendência a constipaçåo, estufamento, gases e cólicas abdominais.

      Excluir
    2. Sonia, você está usando o kefir de água, resolveu pra vc?

      Excluir
  7. estou doando kefir de leite em bh.

    ResponderExcluir
  8. estou doando kefir de leite em bh.

    ResponderExcluir